domingo, julho 19, 2009

Acumular dívidas...uma doença incurável!

A acumulaçao de dívidas em escala individual pode ser um drama resultante de desemprego eventual, doença em familia ou, pior, uma patologia controlável, mas incurável, caracterizada por compulsão consumista capaz de colocar vidas em risco.

Na última pesquisa sobre inadimplência realizada pelo Cluve dos Diretores Lojistas do município do Rio, o descontrole de gastos, um indício de patologia, foi responsável por 11,4% das notificações. Estima-se que o transtorno atinja 8% da população.

Parte do rol de enfermidades catalogadas e reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a compra compulsiva, também conhecida como oneomania, integra o grupo dos chamados transtornos de impulso, que podem chegar à obsessão. E acaba por desembocar no endividamento em cascata, que acaba destruindo patrimônios, dissolvendo familias e, em alguns casos, até causando suicídios.

A maioria feminina, há números diferentes, mas todos convergem na indicação de que as mulheres são maioria entre os compradores compulsivos. Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, a participação feminina poderia chegar a 80%. Já a psicóloga Angela Duque reconhece a maioria feminina no grupo, embora acredite que haja subnotificação dos casos de homens que compram compulsivamente.

No Rio, há duas correntes para o enfrentamento do problema. Uma funciona nos Devedores Anônimos - DAs (www.devedoresanonimos-tj.org), grupo de ajuda mútua nos moldes dos Alcoólocos Anônimos, com proposta de fazer com que o comprador compulsivo reaprenda a lidar com o dinheiro, estabelecendo metas de comportamento e postura. Tem reuniões nas manhãs de sábados, na Rua México, 90 - 9º andar.

Outra corrente de abordagem clínica, funciona desde o ano passado no Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. São atendidos também jogadores compulsivos, que muitas vezes igualmente acabam no grupo dos altamente endividados. O número de casos deste último grupo aumentou consideravelmente com o funcionamento das casas de bingo e caça-níqueis na cidade, atualmente proibidos.

Transtorno que pode levar à morte

Angela Duque, psicóloga do Serviço de psiquiatria da Santa Casa explica que a compra compulsiva, ao contrário do que muita gente pensa, é uma doença grave, com índice muito alto de tentativas de suicídio, e muitas vezes erroneamente encarada como falta de caráter ou irresponsabilidade.

Por alguma carência, as pessoas não resistem ao impulso de comprar. Ficam deprimidas e ansiosas, a vida familiar se destrói, porque os parentes não entendem como a pessoa, já com tantos problemas, continua comprando daquela maneira. Comprometem-se com agiotas, financeiras, estouram o limite de cartão, a vida vira drama.

A gratificação momentânea é seguida por culpa enorme, porque eles sabem que gastaram o que não podiam. É importante destacar que estes casos necessitam de um tratamento multidisciplinar, às vezes acompanhado de medicação, com ajuda terapêutica.

Ela admite que a maioria de seus atendimentos é para mulheres, muitas com curso superior, como procuradoras, advogadas, professoras. Uma delas é a advogada Ana, 31 anos, moradora de Copacabana e casada há 10 anos. Perdeu o emprego, o casamento quase acabou e hoje acumula dívidas que chegam a R$ 150 mil. Foi obrigada a vender o carro novo que ganhara do marido para fugir do assédio de agiotas e hoje conta com a ajuda da Defensoria Pública para renegocias dívidas que tiveram crescimento exponencial.

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