domingo, maio 13, 2007

Heroínas da vida real ...

No dia 30 de abril passado, um festival em Buenos Aires comemorou o 30° aniversário da Associação Mães da Praça de Maio.
O movimento, surgido na Argentina durante a vigência da ditadura, vem cobrando das autoridades desde então informações sobre o paradeiro dos filhos e netos dessas mulheres, quase todos presos, torturados e mortos.
A estimativa é de que, ao todo, foram 30.000 desaparecidos no período entre 1976 e 1982.
Inicialmente, o movimento foi visto como ingênuo - chegaram a ser conhecidas como "As loucas da Praça de Maio" - mas, posteriormente, tornou-se um importante meio de pressão para a volta da democracia ao país, além de um modelo de resistência pacífica.
Nos primeiros protestos, não reuniam mais do que 60 pessoas. Gritavam palavras de ordem e passavam abaixo-assinados, exigindo uma resposta do governo militar. E isso era feito diante da sede do governo, a Casa Rosada, em aberto desafio a um regime famoso por sua máquina de repressão brutal.
Aos poucos, mais e mais mulheres engajaram-se no movimento, comparecendo à praça todas as tardes de quinta-feira, com lenços brancos na cabeça e cartazes trazendo os nomes dos familiares desaparecidos.
Em várias dessas ocasiões, elas foram atacadas por tropas da cavalaria e feridas por cães das forças policiais.
Mesmo em meio ao clima euforia que se formou no início da Guerra das Malvinas - a tentativa da reconquista do arquipélago aos ingleses pela Argentina, em 1982 - , elas mantiveram o tom forte de cobrança : "As Malvinas são argentinas, os desaparecidos também!" , bradavam.
Embora os resultados de sua luta pudessem parecer desanimadores - poucas conseguiram localizar os restos mortais de seus entes queridos - , elas não perderam a tenacidade.
Recusaram indenizações e homenagens do governo da Argentina redemocratizada, que, para tentar por um ponto final ao drama, chegou a sugerir a colocação de placas indicativas em lugares onde as vítimas do regime haviam estudado ou trabalhado. E continuaram a cobrar o paradeiro dos corpos.
A coragem dessas mulheres deu frutos e tornou-se um exemplo para o mundo - a entidade recebeu premios humanitários internacionais e em 1990 foi homenageada com uma escultura em Amsterdã, na Holanda.
Sob o comando de Hebe Bonafini, e com idades de 75 a 92 anos, elas se reúnem até hoje, em busca de notícias dos ainda numerosos desaparecidos políticos.

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