domingo, março 08, 2009

Mentes do Futuro

Está ocorrendo desde semana passada em São Paulo, o festival internacional de filmes com apenas um minuto de duração, reunindo 80 países.

Esse tipo de mostra ocorre anualmente em 40 nações, circula em escala planetária e atrai o patrocínio de empresas multinacionais.

Pouca gente sabe que esse festival é uma invenção brasileira e ninguém imagina que seu inventor era visto, por muito tempo, como um fracasso, um caso irrecuperável.

Marcelo Masagão estava desempregado em 1991 quando conseguiu passar filmes de um minuto num teatro da PUC, em SP.

No ano seguinte foi para o MIS (Museu da Imagem e do Som). Um italiano viu aquela experiência e a levou para a Europa, de onde se disseminou.

Como era excessivamente bagunceiro, foi expulso, convidado a se retirar das escolas em que estudou. Na faculdade cursou psicologia, mas após sete anos, não tinha completado 40% do curso.

Só resolveu mesmo se esforçar na oitava série porque seu pai o chamou de "burro e vagabundo". Tirou notas altas, a maioria dez, nas matérias. Mas no final se desentendeu com um professor e, mais uma vez, recebeu o convite para se retirar.

E como conseguiu ser bem-sucedido? A resposta está provavelmente nos estudos sobre as diversas formas de inteligência desenvolvidos em Harvard.

Disseminador da idéia de que existem intelig~encias múltiplas (a escola só focaria numa delas) o psicólogo Howard Gardner afirma que um dos atributos fundamentais para prosperar profissionalmente é a "mente sintetizadora". Com o excesso atordoante de informação, graças em boa parte à abundãncia de fontes na Internet, passa a valer mais quem sabe extrair o que é essencial , ou seja, quem sabe selecionar e apontar um caminho.

O primeiro filme de Masagão era um esforço de resumir e encadear em 70 minutos toda a história do século 20, sem nenhuma fala, apenas com imagens.

Depois de tanto tempo de dispersão, acabou encontrando a síntese de seu futuro na busca de gente que procura uma síntese em apenas um minuto, transformada também num projeto de Internet e não apenas nos festivais.

Agora ele criou a modalidade de obra em dez segundos, batizada de "nanofilme".

Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade da seleção será cada vez mais demandada, o que vai abater parte do encanto da produção coletiva de conhecimento (ojornalismo colaborativo, por exemplo), na qual muitos sentem autoridade para falar de qualquer assunto. Afinal, a síntese depende de um longo processo de avaliação do que é essencial.

Mais uma vez, o Festival do Minuto serve como exemplo. Tecnicamente, qualquer um hoje pode se sentir um cineasta. Basta um celular. São enviados para lá milhares de filmes, sem qualquer esforço de produção.

Como reduzir tantas coisas, muitas delas complexas, em tão poucos minutos de leitura diária? Como captar a atenção de um público cada vez mais hiperativo? Não é um problemas apenas dos meios de comunicação. É um desafio que envolve toda a rede de produção e disseminação do conhecimento.

Em geral, as ciranças e os jovens não são treinados nas escolas a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias, sem muita conexão com a realidade, avaliadas em provas, e depois rapidamente esquecidas.

Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para Marcelo Masagão fazer sucesso na vida do que na escola. Só não sabia que iria virar uma espécie de professor na arte de sintetizar.

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